Revista: Manchete 16 de Janeiro de 1982
Foto Arestides Baptista
Em Salvador, após uma noitada de festa, o ponto alto do Ano-Novo foi a tradicional procissão do Bom Jesus dos Navegantes
Os baianos comemoraram a passagem do ano com festas e danças, nos diferentes clubes e boates, ou velejando em dezenas de escunas na baía de Todos os Santos. As camadas de poder aquisitivo mais baixo se valeram das centenas de barracas armadas em quase três quilômetros na faixa do litoral que contorna o bairro da Boa Viagem. A animação foi tão grande que milhares de pessoas preferiram amanhecer o primeiro dia do ano degustando cervejas à espera da procissão tradicional do Senhor dos Navegantes, que saiu do cais da Praça Cairu por volta das 9 horas. Nas escunas, também os festejos continuaram durante toda a procissão. Os mais elegantes preferiram passar o réveillon nas casas noturnas mais sofisticadas, como Régine’s e Hippopotamus. A primeira parece ter saído vitoriosa nesta rivalidade, pois reuniu um número maior de baianos conspícuos, entre os quais três ex-ministros: Said Farhat, Ângelo Calmon de Sá e Eduardo Portela. O ministro das Relações Exteriores, Saraiva Guerreiro, escolheu Salvador para passar as festas de fim de ano, mas não compareceu a nenhum lugar público, tendo preferido o ambiente privado da casa de amigos, perto da Base Naval de Aratu.
Durante a procissão do Senhor Bom Jesus dos Navegantes, que desde 1892 faz parte essencial das comemorações do 1° de janeiro, quebrou-se agora um dos mais antigos tabus da Bahia: até hoje, nenhuma mulher tivera permissão para ficar na galeota (a mesma, por sinal, desde 1892) que transporta a imagem do santo. Mas, este ano, a presidência da Comissão de Festas da Irmandade de Boa Viagem é ocupada por uma mulher, a senhora Zuleide Plácido, que, apesar de todas as ameaças e maldições, resistiu a todas as pressões mas não abriu mão de seu direito de acompanhar o Senhor dos Navegantes. A madrinha oficial dos festejos viajou pois, na galeota, ao lado do Cardeal Dom Avelar Brandão Villela, dos membros mais ilustres da Irmandade e dos marujos comandados pelo velho Mestre, que há 51 anos dirige a embarcação durante a procissão maior.
O capitão tinha anunciado até uma catástrofe, com a presença de mulher na galeota. Mas durante as quatro horas que durou a procissão, do Cais da Praça Cairu até o Farol da Barra, retornando em seguida à Praia da Boa Viagem, tudo correu às mil maravilhas, em meio ao barulho das orquestras que iam nos barcos do cortejo. Os baianos estão convencidos de que este ano será abençoado, e esperam agora a segunda grande festa do mês, a Lavagem da Igreja do Bonfim, que se celebrará no dia 8.
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