Fotos de Lázaro Torres
Antes de ser confirmado em seu santo- Oxalá- Raimundo ficou recolhido no runcó durante uma semana, repousando e cumprido obrigações. No dia da sua festa, a roça de São Jorge estava toda enfeitada com bandeirolas e folhas de palmeiras. Havia razões para alegria pois o ogã é um dignitário (em ioruba a palavra oga, que se abrasileirou para ogã, significa senhor) além de ser pessoa querida no terreiro, pois é sempre escolhida por um orixá no momento em que se manifesta.
Depois de apontado, o ogã deve aceitar suas obrigações para com o terreiro em que foi escolhido. Antes da cerimônia da confirmação de Raimundo Nonato Neves, foram colocados no barracão de São Jorge bancos para convidados especiais. Enquanto estes e os demais amigos da casa recebiam folhas de gonçalinho e punhados de arroz, as filhas de santo davam os últimos retoques em suas belas saias engomadas e rendadas. Por volta de 21 horas, os atabaques começaram a soar e se ouviram os cantos africanos. As filhas-de-santo começaram a executar as danças rituais que antecedem à chegada do ogã. Logo apareceu Raimundo Nonato, todo vestido de branco, com uma folha de palmeira na mão. Era conduzido pela mãe-de-santo Mirinha do Portão. Obedecendo à tradição, foi entoada uma cantiga em iorubá, destinada a levantar o ogã que passaria a ficar suspenso segundo acreditam os devotos do candomblé.
As filhas-de-santo caminharam em direção ao ogã e juntos deram três voltas dentro do barracão.O ritmo dos atabaques se intensificou. Quando os cantos atingiram o seu tom mais alto; várias filhas-de-santo entraram em convulsão. O orixá havia se manifestado. Elas foram levadas a uma sala especial. Depois, retornaram para continuar com as danças e cânticos. Horas depois, Raimundo Nonato foi solenemente conduzido a uma cadeira toda trabalhada. Segundo o ritual, sentou-se, fez referência,ergueu-se e só na terceira vez em que se curvou, para saudar as entidades. Pôde ficar definitivamente sentado.Então o ogã foi cumprimentado em nome dos orixás por todos os presentes.
Para encerrar a festa, Mãe Mirinha do Portão, serena e bela como são as sacerdotisas dos candomblés da Bahia, relembrou ao ogã todos os seus deveres e responsabilidades.Agora, Raimundo Nonato será para sempre o ogã Kasutemi de Oxalá.Em seus pés foram depositados ramos de flores. Em sua homenagem, as filhas-de-santo se curvaram em reverência.
De agora em diante, apesar de a Bahia não ser Daomé nem a Nigéria, ele deve se comportar como se estivesse integrado na cultura da África Ocidental. Terá que usar com honra seu título de ogã e deverá ajudar o Terreiro de São Jorge, Filho da Goméia, principalmente nas festas de Oxalá. Dentro da crença do candomblé, é possível que Raimundo Nonato, ao entrar em outro terreiro, seja objeto da simpatia de outro orixá e novamente apontado. Mas não poderá aceitar a honra. Este é o código dos terreiros da Bahia, que se defendem uns aos outros de mal-entendidos e zelam pela seriedade de suas tradições e ritos. Na foto ao lado o
ogã é conduzido ao centro do barracão pela Mãe Pequena
do terreiro.
Um comentário:
Infelizmente não foi falado que a nação é Angola o quesque manifesta é nkise não orixá e os cânticos são em kimbundo e kicongo nada de Nigéria
No entanto vale a memória de Tata kasutemi o qual eu conheci e onde ele estiver meus respeitos
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