Foto Lázaro Torres
Gilberto Gil está satisfeito com o movimento “Black”. Para ele, o importante é que cada um assuma o seu valor na sociedade. Orgulhosamente, Gil reconhece que tem participação direta no processo, com suas músicas letras e longas tranças.
Gil acha que está existindo uma sincronização, quase espontânea, entre os movimentos culturais e mesmo de rebeldia. “Seria uma sincronização de esforços para o negro encontrar um lugar digno, dentro das sociedades dominadas pelos brancos. Eles querem uma comunidade internacional que respeite seus valores e seus costumes. Brancos e negros devem estar irmanados. O negro está reivindicando uma série de coisas que os brancos já usufruem, mas que lhes vêm sendo negadas desde três ou quatro séculos atrás.”
Gilberto Gil garante que beleza não tem cor. O importante é coragem para assumir.Seja lá o que for.Toda manifestação é importante, desde que seu conteúdo velha a lita.
RACISTA
Quando indagado se concordava com as alegações de alguns estudiosos, de que estas manifestações seriam racistas, Gil responde: “Acho que deve ter e tem uma conotação racista, porque toda manifestação ligada a uma reivindicação de uma raça é vista sob o ponto de vista racial e forçosamente tem comprometimentos com componentes racistas, inclusive pelo próprio caráter de represália.
É um sentimento de pressão que está sendo liberado. É quase inevitável esta conotação racista, embora não podemos deixar de ressaltar que seus objetivos não têm nada a ver com o racismo. Os movimentos não nasceram e nem irão nascer com o objetivo de serem racistas, e sim uma atitude racial, de um orgulho de raça.”
Quanto ao Black Rio, o cantor Gilberto Gil acha que ele realmente fornece fermento para o crescimento desses movimentos, na medida em que assumiu, há pouco tempo, seu papel de negro. Um negro que canta e compõe. As trancinhas longas, as vestes e o próprio trabalho musical têm influenciado de certa forma alguns jovens. “O Black Rio não é um movimento tão organizado como pensam algumas pessoas. Vejo o Black mais como uma manifestação espontânea, natural, cultural. Quase que está incorporado ao próprio folclore do carioca. Não tem as garotas de Ipanema? As feras da Zona Sul? Então os negros têm os caras do Black com sua vida diferente.”
Ele acha que esses movimentos estão crescendo na medida em que ganham espaços nos jornais e revistas, tempo no rádio e na televisão, e mesmo as discussões acadêmicas pelos intelectuais sobre o Black e outros. “No fundo, no fundo, o que os negros da zona norte carioca querem é dançar, brincar e fazer suas saudações à moda africana. É o folguedo, um despertar e valorização de suas origens. Hoje, coitados, eles estão com uma porção de grilos, porque um grupo diz que é autêntico (Quilombos) e os outros não. Dizem que tal é tal grupo é alienado, esta coisa que acontece com qualquer movimento. Acho que os negros devem assumir seus valores. A coisa apareceu, está aí, então vamos assumir. De repente, descobrimos que os negros são lindos, como os brancos. Ora, antes a beleza era mais voltada para o menino da Johnson, para as misses loiras ou morenas. Mas hoje a negra também tem seu lugar, portanto, a beleza não tem cor. Tudo é uma questão de ser ou não belo; tanto faz branco, negro ou amarelo. Nossos índios, por exemplo, são considerados bonitos em relação a várias tribos espalhadas por este mundo afora. Vejo assim a negritude assumindo o seu papel dentro da comunidade internacional. Não é uma teoria minha. É uma constatação. A gente evidencia um pouco mais o orgulho pessoal. O negro descobriu, de repente, que é dono do seu próprio limite.”
REFAVELA
Para Gil, Refavela é o próprio trabalho que apresenta toda esta evidência: “É uma manifestação de um representante de uma raça que deseja se impor, que deseja que seus valores e costumes sejam respeitados. O negro brasileiro quer ser respeitado, quer dançar, quer respeito a seus valores para viver em perfeita harmonia com o branco e disputar, também, com igualdade, esta terra e suas belezas naturais em todos os sentidos.”
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