Texto Reynivaldo Brito
Jornal A Tarde 9 de setembro de 1992.
"No Brasil , sucesso é ofensa pessoal", Tom Jobim
Tenho observado como o sucesso dos outros incomoda. Nas conversas na universidade, nas mesas dos bares da moda, no ambiente de trabalho e mesmo nas reuniões em casas de amigos sempre vem à baila o sucesso de alguém. Bastou o indivíduo aparecer com um carro do ano, comprar um imóvel num bairro elegante ou uma casa de veraneio que o nome do cidadão aparece em todas as conversas de seus conhecidos, e as avaliações apressadas aparecem para rotulá-lo de esperto e sabido. Alguns vão mais adiante com afirmações "só pode estar roubando", fulano de tal "está rico", fulano de tal "é um marajá". Você não ouve ninguém dizer que o cidadão conseguiu aquele carro ou aquele apartamento trabalhando como um desgraçado, noite e dia, lutando atrás de um balcão, de um birô , tocando sua fazenda, sua banca de advocacia ou de consultoria. nada! Em nosso país o sucesso é sinônimo de falcatrua.
E,aí, o indivíduo passa a sofrer uma verdadeira caçada pelos colegas de trabalho,chefes e vizinhos. Sua vida transforma-se num inferno, enfrentando verdadeiras CPIs, exatamente no momento em que ele precisa e acreditava que ia desfrutar de um pouco de conforto e lazer. Os anos vividos, à esta altura já está quarentão ou cinquentão, não lhe garantiram a tranquilidade porque um grupelho de invejosos passa a olhar o cidadão com as vistas atravessadas. Aí surge uma série de dificuldades que lhe são antepostas e acusações insanas e gratuitas. Ele gasta grande parte de sua preciosa existência a se desvincilhar desses vampiros do sucesso alheio.
Os vampiros se multiplicam em todos os níveis. Têm estrutura própria e métodos de ação coordenados com o único objetivo de atrapalhar o sucesso. A frase de Jobim vem exatamente de encontro a estas observações que faço. Ele mesmo sofreu muito com isto quando criaram uma falsa idéia de que estava milionário, e teve que sair do País para ganhar algum dinheiro nos Estados Unidos para garantir a sua sobrevivência. Os organizadores de espetáculos não o chamavam para a Tv e shows porque espalharam que ele estava milionário e, portanto, o seu cachê era altíssimo. Quer dizer, tiraram o Jobim do mercado.
Assim procedem aqui em Salvador os vampiros que alardeiam que vários profissionais liberais estão ricos, "cobram os tubos"por uma operação ou consulta, por um processo, por um quadro ou por um parecer. Enfim, atingem indiscriminadamente a todos que em suas atividades obtêm algum destaque.
Acho que é hora de trabalho. Digo, trabalho e mais trabalho. Só vence quem trabalha com dignidade. os que procuram os atalhos, sempre despencam nas armadilhas da vida. Os que vivem vampirando as ações dos outros ficam olhando o bonde passar e, no final da vida, vão amargar uma velhice de dificuldades. Esta é a resposta da vida para os que se incomodam com o sucesso alheio.
Reynivaldo Brito é jornalista e sociólogo.
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