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quarta-feira, 9 de maio de 2012

PLANEJAMENTO FAMILIAR - DUAS ALTERNATIVAS PARA A PÍLULA


Revista: Mulher de hoje, N° 2 – Abril de 1980


Cientistas têm sempre buscado alternativas para a pílula anticoncepcional, que ofereçam a mesma segurança, mas sem seus efeitos colaterais. Entre as conquistas já feitas, o homem conta com a vasectomia um método simples e seguro, mas nem por isso aceito amplamente. E as mulheres terão, em breve, à disposição, o anel vaginal que está em fase de teste.


Esterilização para os homens

A vasectomia, apesar de pouco difundida no Brasil, é um método anticoncepcional já antigo, que esteriliza o homem definitivamente. Trata-se de uma operação de técnica bastante simples, que consiste de uma pequena incisão no terço superior de cada lado da bolsa escrotal, através da qual se descobre o canal deferente, que é seccionado e amarrado. O canal deferente é por onde passam os espermatozoides ejaculados. A intervenção dura apenas 15 minutos e é feita com anestesia local. O paciente não precisa sequer de repouso e, em certos casos, pode até copular sem maiores cuidados. A dor pós-operatória é tolerável e cede a qualquer analgésico. Apenas os testículos ficam um pouco sensíveis, exigindo o uso de uma funda por dois ou três dias, a fim de imobilizá-los.

Quando um casal opta pela esterilização, só há dois caminhos: a ligadura das trompas para ela ou a vasectomia para ele. Entre essas duas operações, não há dúvidas de que a segunda é bem mais simples. Dispensa a hospitalização e pode ser feita no próprio consultório de um urologista ou cirurgião. Já a ligação das trompas requer internamento, anestesia geral e, o que é mais grave, uma incisão na barriga.

O anel vaginal, criado pela equipe deo dr. Elsimar Coutinho ( na foto), pode vir a substituir a pílula.


Riscos reais e imaginários

Em nosso país, para cada 100 mulheres que se esterilizam, apenas um homem faz a vasectomia. Se a operação e tão simples, por que os homens relutam em se submeter a ela? Há o receio, por falta de informação, da impotência. Fisiologicamente, entretanto, não há risco. O método afeta apenas a capacidade de procriar. As repercussões psicológicas também só poderão prejudicar um homem que não seja maduro, nem esteja absolutamente seguro de sua masculinidade. Uma outra razão de impedimento é que a maioria dos homens encara a gravidez como uma dádiva sua, e não aceita abrir mão dela.
O único risco que o casal corre ao manter relações sexuais logo após a vasectomia é o de uma gravidez, porque a esterilidade não é imediata. Acredita-se que alguns espermatozoides podem ficar retidos e serem soltos mais tarde. Por esta razão, é necessário recorrer a outro método anticoncepcional até três meses após a operação, para maior segurança.
Há um aspecto importante que não pode ser negligenciado pelos candidatos a uma vasectomia. Como todo processo de esterilização, a vasectomia é, em princípio, irreversível. Se bem que, tecnicamente, seja bastante viável a repermeabilização dos canais diferentes, pode surgir um outro problema. Sem que se saiba exatamente por que, quase sempre que um homem se faz esterilizar, no seu organismo se processa uma reação imunológica, mediante a qual ele desenvolve anticorpos antiespermatozóides seus, que passam a se aglutinar e perdem a mobilidade.

A opinião da Igreja e da lei

A Igreja Católica, segundo Dom Estevão Bittencourt, decano do Centro Teologia e Filosofia da Universidade Santa Úrsula, não aprova a esterilização, tanto masculina como feminina, provisória ou definitiva.
“Querer eliminar da união de um casal a fecundidade implica, de certo modo, um truncamento ou uma mutilação. É por isso que a igreja, como porta-voz da lei natural (que é a lei do próprio Deus), rejeita qualquer forma de esterilização artificial”.
Isto não quer dizer, entretanto, que a Igreja se oponha ao planejamento familiar ou ao controle da natalidade. Desde que os métodos utilizados respeitam o curso da natureza.
Legalmente, tanto a ligação de trompas quanto a vasectomia são proibidas. Para o Dr. Paulo Goldrach, advogado, “o essencial é que a população receba maiores esclarecimentos sobre planejamento familiar. É preciso haver consciência de que a organização da família cabe aos cônjuges, e não à sorte, e que é direito de ambos discutir o número de filhos”.

O anel vaginal

O anel vaginal é um novo método anticoncepcional, testado em duzentas mulheres baianas, sob a orientação do cientista Elsimar Coutinho. Ele confia na vantagem do seu método sobre a pílula, porque nele a absorção é feita por via vaginal, evitando assim que as substâncias químicas passem pelo fígado, origem de quase todos os efeitos colaterais dos contraceptivos orais.
O anel é produzido em dois tamanhos, com quatro ou cinco centímetros de diâmetro, de acordo com o canal vaginal, e deve ser colocado o mais profundo possível, em posição horizontal. Ele é impregnado de uma determinada quantidade de hormônios esterógenos, que são absorvidos pela parede vaginal, passando para o sangue, inibindo desta forma a ovulação, o que evita a gravidez. O material do anel é silastia – uma borracha de silicone – e ele tem a durabilidade de seis meses. Pode ser retirado, quando for necessário lavá-lo ou mesmo durante o período menstrual. Em fase de testes, o anel vaginal ainda não está sendo do comercializado.
Entre as recentes descobertas no campo dos contraceptivos, está também o método Billings, aprovado, inclusive, pela Igreja Católica. Diferente do Ogino-Knaus (tabela), é bastante preciso na indicação dos dias férteis da mulher, deixando assim uma margem ampla de dias nos quais o casal pode ter relações sexuais sem possibilidade de conceber. Existem diversos livros no mercado explicando detalhadamente este método.
Reportagem de Regina Stela Braga e Reynivaldo Brito

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