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quinta-feira, 17 de maio de 2012

CIDADE DE SALVADOR - A VELHA SALVADOR VAI PERDENDO AOS POUCOS SUAS CARACTERÍSTICAS

CIDADE DE SALVADOR
Jornal A Tarde 12 de abril de 1973

Aos poucos, a velha Salvador está perdendo alguns instrumentos pitorescos e tradicionais. Agora, por força do progresso, os velhos peixeiros que, há dezenas de anos, ficavam localizados na rampa do Mercado Modelo serão deslocados para o Mercado Popular, que fica próximo à Feira de São Joaquim. São cerca de 160 homens rudes acostumados a amanhecer o dia na rampa, à espera dos “embarcadiços”, homens que saem nos barcos para a pescaria. Os peixeiros figuram em cartões postais, telas de pintores famosos, enciclopédias e até nos catálogos oficiais do nosso turismo.
Mas os peixeiros já esperavam a saída. Quando o antigo Mercado Modelo incendiou, as autoridades municipais os colocaram ao lado do prédio onde funcionava a Escola de Aprendizes Marinheiros e avisaram que aquele local era provisório. Alguns chegaram a ser deslocados para o Mercado Popular. Levaram poucos quilos de peixes que apodreceram, porque ninguém apareceu para compra-los. E assim voltaram para a rampa do antigo Mercado Modelo. Agora, todos serão encaminhados para o Mercado Popular e por isso estão com receio de que venham a passar necessidades.
Foto postal Brasil Turístico

O Presidente do Sindicato dos Vendedores de Pescado de Salvador, sr. Ridoval da Boa Morte, não negocia na rampa do Mercado . Sua banca fica localizada no Rio Vermelho. Disse ele à reportagem que “os peixeiros da rampa do Mercado Modelo vão ser deslocados provisoriamente para o Mercado Popular pois o nosso desejo e da Sudepe é a criação de um entreposto que substituirá aquele local. Possivelmente, este entreposto funcionará nos três grandes galpões da Cibrazen. Por enquanto, a descarga do pescado vai ser em Água de Meninos, próximo à Friusa, depois passará para as proximidades dos galpões.

Os grossistas estão se instalando no Mercado Popular e suas imensas “geladeiras”que são grandes caixas de isopor já estão sendo transferidas para o Mercado Popular. Os varejistas, é que serão transferidos até o próximo dia 25. Eles tiveram uma reunião recentemente com o Delegado da Sudepe, quando ficou decidida a mudança e outras providências que serão tomadas.

Um dos peixeiros estava temeroso. Ele é o vice-presidente do sindicato, Januário Manoel de Santana, que vende na rampa do Mercado Modelo. Disse que a “maioria das pessoas prefere comprar em locais mais próximos aos terminais dos ônibus porque é desagradável a pessoa tomar um transporte coletivo em pé com pacotes. Com isto muita gente vai comprar na Unimar e outros supermercados próximos aos “fins de linhas” dos ônibus. O Mercado Popular está mal localizado e tenho certeza que isto vai nos prejudicar. Não sou contra a mudança porque as autoridades desejam e a gente tem que obedecer. Agora, que a vendagem vai ser a mesma, eu, sinceramente, não acredito”.


 TIRE SUA FOTO


Você poderá até o dia 25 do corrente tirar uma foto da rampa do Mercado com os barcos, saveiros e os pescadores descarregando a produção. Como integrante de telas e cartões postais, a saída dos pescadores e peixeiros da rampa do Mercado deixará vazio o “cartão postal” que tanto foi exportado para o mundo. Assim os pescadores “Castiça”, Lino, Julio, Antonio e outros vão ser transferidos para o Mercado Popular.
A mudança foi ocasionada, porque o Comando do II Distrito Naval mudou-se para a antiga Escola de Aprendizes Marinheiros e os peixeiros não mais poderão ocupar o calçadão existente ao lado do imóvel.                                                                           Foto tirada do belvedere da Praça Municipal

Muitos desses peixeiros e pescadores estão instalados na rampa do Mercado há mais de 20 anos. Eles negociavam dentro do antigo Mercado Modelo que foi incendiado e depois passaram para onde estão hoje, e agora serão transferidos para o Mercado Popular, também provisoriamente.

Assim como os cardumes de peixes mudam de itinerário durante os meses do ano, os peixeiros são transferidos por força do progresso para lugares às vezes não vantajosos.



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