Revista: Agricultura de Hoje, Junho de 1978 – Ano IV – n° 38
O Recôncavo Baiano, tradicionalmente ocupado pela cana, está perdendo terreno para a cacauicultura. Os produtores esperam reconquista para o Brasil o 1° lugar na exportação mundial de cacau.
Texto: Reynivaldo Brito / Fotos: Carlos Santana
As repetidas crises da agroindústria açucareira do Nordeste estão obrigando os proprietários de usinas e fornecedores de cana à diversificação de cultura, com o objetivo de assegurar outras fontes de renda. Este quadro é realidade no Recôncavo Baiano, onde extensas áreas, que eram tradicionalmente dedicadas à monocultura da cana-de-açúcar, estão, agora, transformando-se em região produtora de cacau. A idéia de ocupar as terras do Recôncavo com cacau é antiga, e deve-se a Sosthenes Miranda que, desde 1943, mostrara que existem semelhanças ecológicas entre o Recôncavo e a chamada zono cacaueira no interior da Bahia, compreendendo municípios do sul e extremo sul do estado.
O agrônomo Antônio Fernando de Souza Pinho, responsável pela Estação Experimental Sosthenes Miranda, da Ceplac, no km 63 da BR-324, mantém estreito contato com os fazendeiros do Recôncavo e diz que a substituição da cana pelo cacau é apenas uma questão de tempo. Isto porque a situação fundiária desta região é muito complexa: cinco usinas dispõem de grandes extensões de terras.
“Nelas estão os canaviais e muitas áreas ociosas. Mas existe um grande projeto agrícola: serão loteadas áreas, onde vamos introduzir a cultura do cacau. Devo dizer que, a esta altura, já estamos com dois mil hectares de terras plantadas e colhendo cacau no Recôncavo Baiano. Com o resultado até agora obtido, os fazendeiros estão mais animados e dentro de pouco tempo teremos milhares de hectares de cacau no Recôncavo, colocando o Brasil novamente em primeiro lugar como exportador deste produto.”
BACIA SEDIMENTAR
O Recôncavo Baiano compreende as terras que margeiam a Baía de Todos os Santos até uma profundidade média de 50 km em linha reta a partir da costa e a uma distância média de 100 km de Salvador, por via rodoviária. Dentro desta região, a área apropriada à cultura do cacau se restringe à sua bacia sedimentar, cuja extensão cobre uma superfície de 250 mil hectares, dos quais 70 mil são terras próprias para a cacauicultura, sendo que grande parte está situada no eixo da rodovia BR-324.
Há quatrocentos anos o massapê desta região vem sendo utilizado pela cultura da cana, embora sejam apropriados para culturas perenes, considerando que suas propriedades físicas criam séria dificuldade para o manejo da terra, especialmente tratores.
Embora tarde, o Recôncavo vai mudar. Até sua paisagem, onde surgem prados com ondulações suaves ocupados por grandes canaviais, vai ser transformada em bananais e por baixo das bananeiras ficarão os cacauais híbridos, que estão sendo introduzidos pelos técnicos da Ceplac. Assim, quando o viajante passar pela BR-324 terá oportunidade de ver os bananais aumentando, tomando o lugar dos canaviais. As áreas para introdução do cacau no Recôncavo já foram mais ou menos delimitadas e os técnicos adiantam que compreendem os municípios de Simões Filhos, Candeias, São Francisco do Conde, Santo Amaro, Cachoeira, Amélia Rodrigues, São Sebastião do Passé e Mata de São João. Nesses municípios parte das terras será ocupado por cacauais.
RODOVIAS E ENERGIA
O Recôncavo é uma região privilegiada, diz o agrônomo, no tocante à sua localização, contando também com uma boa rede de rodovias e suprimentos de energia elétrica em quase toda a área.
O Recôncavo é uma região privilegiada, diz o agrônomo, no tocante à sua localização, contando também com uma boa rede de rodovias e suprimentos de energia elétrica em quase toda a área.
Os solos da área são indicados para o cacau apresentando média e alta fertilidade, com alta capacidade de retenção de água e grande reserva mineral. A topografia é, na maior parte da área, suave e ondulada, permitindo trabalhos de mecanização agrícola. As vantagens de correntes da riqueza química destes solos se expressam pelo baixo consumo de fertilizantes, o que em outras palavras significa menor custo na obtenção de altas produções.
Os técnicos efetuaram um levantamento pedológico, seguindo os critérios de relevo e fertilidade, e encontraram os seguintes tipos de solos para o cacau:
Relevo mecanizável e fertilidade alta – 48.00 ha.
Relevo não mecanizável e fertilidade alta – 10.000 ha.
Relevo mecanizável e fertilidade Média – 12.000 ha.
Total: 70.000 ha.
O clima do Recôncavo é quente e úmido, sem estação seca. Possui semelhanças com a região cacaueira da Bahia no que se refere a chuvas, temperatura, umidade relativa do ar e insolação.
PREPARO MECÂNICO
Os técnicos da Ceplac trouxeram para o Recôncavo Baiano modernas técnicas, desde o cultivo até a colheita e, também, é empregada uma tecnologia gerada em decorrência das características peculiares da região, no que diz respeito ao preparo mecânico do solo, controle mecânico-químico das ervas daninhas, proporcionando um serviço rápido, de alta qualidade e baixo custo.
Os técnicos da Ceplac trouxeram para o Recôncavo Baiano modernas técnicas, desde o cultivo até a colheita e, também, é empregada uma tecnologia gerada em decorrência das características peculiares da região, no que diz respeito ao preparo mecânico do solo, controle mecânico-químico das ervas daninhas, proporcionando um serviço rápido, de alta qualidade e baixo custo.
Quanto à produtividade do cacaueiro no Recôncavo, os dados disponíveis pela Ceplac revelam ser a mesma da região cacaueira do sul e extremo sul do Estado da Bahia, com a utilização de plantas híbridas. Os experimentos conduzidos há oito anos pela Ceplac em fazendas particulares têm produções de até 100 arrobas por hectare.
O Recôncavo Baiano é visto, hoje, como um pólo cacaueiro de grande potencial e está incluído no Procacau, programa que delimitou as diretrizes para a expansão da cacauicultura nacional durante esta década. Consta do Procacau que a meta de plantio para o Recôncavo será de 20 mil hectares até 1985, o que representará uma área expressiva, tendo em vista a existência de grandes áreas ociosas e viáveis à cacauicultura. A não utilização destas terras num prazo mais curto está diretamente relacionada com a estrutura fundiária existente que, até certo ponto, tem retardado a expansão da cacauicultura, a despeito de já existir uma área trabalhada de cerca de 2 mil hectares, sendo 1 mil hectares já plantados com cacau e o restante preparado para futuros plantios. Esta expansão, à primeira vista lenta, se deve ao fato da concentração de grandes áreas de terra em poder dos usineiros.
VENDA A TERCEIROS
Mas, premidos pelas frustações das safras canavieiras, os usineiros vêm, já há algum tempo, diversificando suas culturas. Esta diversificação, na opinião de Antônio Fernando de Souza Pinho, poderá chegar ao ponto de haver uma desmobilização de extensas áreas para venda a terceiros, fragmentadas em glebas:
Mas, premidos pelas frustações das safras canavieiras, os usineiros vêm, já há algum tempo, diversificando suas culturas. Esta diversificação, na opinião de Antônio Fernando de Souza Pinho, poderá chegar ao ponto de haver uma desmobilização de extensas áreas para venda a terceiros, fragmentadas em glebas:
“Nessas glebas implantaremos fazendas médias de cacau, contando com toda infra-estrutura de apoio referente a estradas, água, energia, e áreas de lazer”.
Para ele isto será, sem dúvida, um marco decisivo na história da cacauicultura do Recôncavo, pois terá sido removido um dos mais sérios obstáculos para sua expansão, o que por certo recolocará a região em posição de destaque no cenário econômico.
Uma confirmação do sucesso da introdução do cacau no Recôncavo Baiano é a existência do empreendimento pioneiro da Fazenda Engenho D’água, no Município de São Francisco do Conde, com a produção média de 70 arrobas por hectares, num espaçamento de 4x4 metros para os cacaueiros e 16x16 metros para as árvores de sombra.
SOLOS
Na Bacia Sedimentar do Recôncavo Baiano os solos são originados de sedimentos cretácios, que compreendem arenitos, siltitos, argilitos e folhelhos. Os arenitos, geralmente, originam solos de texturas arenosa, na sua maioria imprestáveis à cacauicultura. Os siltitos, argilitos e folhelhos, geralmente, originam solos com características físicas e químicas adequadas à cultura do cacau. São solos medianamente profundos ocorrendo, em certos locais, a uma profundidade não permissível à cultura do cacau.
Na Bacia Sedimentar do Recôncavo Baiano os solos são originados de sedimentos cretácios, que compreendem arenitos, siltitos, argilitos e folhelhos. Os arenitos, geralmente, originam solos de texturas arenosa, na sua maioria imprestáveis à cacauicultura. Os siltitos, argilitos e folhelhos, geralmente, originam solos com características físicas e químicas adequadas à cultura do cacau. São solos medianamente profundos ocorrendo, em certos locais, a uma profundidade não permissível à cultura do cacau.
Conforme observação dos técnicos da Ceplac, em grande parte das áreas recomendadas para cacau se constata que os sedimentos originários afloram muitas vezes em locais erodidos, cujos declives permitem a perda de material sedimentar. O cultivo continuado da cana-de-açúcar e o manejo do solo exibido para esta cultura facilitam a perda dos solos superficiais, principalmente em áreas onde predominam matérias de textura mais grosseira, como siltito e arenito consolidado, cujo material cimentante é o carbonato de cálcio (siltito caleífero).
CONSUMO AUMENTARÁ
Falando do ponto de vista econômico, Antônio Fernando de Souza Pinho esclarece que, ao se considerar o aumento da área de plantio de cacau, ressalta-se a possibilidade de uma superprodução de efeitos danosos à economia cacaueira. Mas, segundo as estimativas feitas pelos órgãos competentes, o consumo mundial de cacau tende aumentar, sendo prevista para o próximo decênio uma demanda de cerca de 2 milhões de toneladas, estando a produção mundial em torno de 1,5 milhões de toneladas:
Falando do ponto de vista econômico, Antônio Fernando de Souza Pinho esclarece que, ao se considerar o aumento da área de plantio de cacau, ressalta-se a possibilidade de uma superprodução de efeitos danosos à economia cacaueira. Mas, segundo as estimativas feitas pelos órgãos competentes, o consumo mundial de cacau tende aumentar, sendo prevista para o próximo decênio uma demanda de cerca de 2 milhões de toneladas, estando a produção mundial em torno de 1,5 milhões de toneladas:
“Pelo visto, há uma diferença de 500 mil toneladas, para cuja produção há necessidade de ocupar quase 500 mil hectares. Estima-se a área disponível para cacau, no Recôncavo, em torno de 140 mil hectares, estando, assim, longe de ser suprida.”
Acreditam os representantes da Ceplac que a introdução da cultura será feita pelo cultivo do Catongo, dada crença generalizada de que o cacau de amêndoas brancas apresenta melhor preço no mercado e tem resistência à podridão parda.
HÍBRIDO PRECOCE
Devido aos trabalhos desenvolvidos pelo Centro de Pesquisas do Cacau, da Ceplac, no seu programa de melhoramento genético, o conceito de produção de híbridos foi modificado, com a obtenção de precocidade, resistência às doenças etc. Forçosamente o seu emprego será recomendado como o melhor material botânico no estabelecimento de novas áreas.
Devido aos trabalhos desenvolvidos pelo Centro de Pesquisas do Cacau, da Ceplac, no seu programa de melhoramento genético, o conceito de produção de híbridos foi modificado, com a obtenção de precocidade, resistência às doenças etc. Forçosamente o seu emprego será recomendado como o melhor material botânico no estabelecimento de novas áreas.
Acrescentam os técnicos da Estação Experimental Sosthenes Miranda, que no tocante às técnicas inerentes ao cultivo do cacau, como sombramento provisório e definitivo, tratos culturais etc., alguns pontos merecem atenção especial, pelo fato de algumas condições do Recôncavo serem diferentes das da Região Cacaueira da Bahia. De todos eles, o sombreamento provisório e o controle das ervas daninhas são os que apresentam maior número de problemas.
O cultivo tradicionalmente usado para o fornecimento da sombra provisória ao cacau, a bananeira, não oferece o desenvolvimento satisfatório na região do Recôncavo, se não lhe forem propiciadas condições. Estas condições se referem aos cuidados no preparo das mudas com vistas ao controle da broca-de-bananeira (Cosmopolites sordidus), pois o Recôncavo é zona endêmica desta praga, conhecida também como moleque. É indispensável o controle sistemático das ervas daninhas durante o período de desenvolvimento do bananal, pois a bananeira é planta altamente sensível à concorrência de invasores, que paralisam o seu crescimento e tornam cloróticas as folhas. A fim de atenuar os gastos com capinas e roçagens do bananal, recomenda-se o plantio de uma cultura auxiliar, como mandioca, mamona, quiabo, andu e tefrósia.
MUDAS PARA O CAMPO
Os técnicos recomendam, ainda, adubação mineral, a fim de assegurar o sombreamento que permite o transplante das mudas para o campo na época desejada, o que dificilmente será conseguido se o desenvolvimento do bananal for apenas às custas das condições naturais do solo.
Os técnicos recomendam, ainda, adubação mineral, a fim de assegurar o sombreamento que permite o transplante das mudas para o campo na época desejada, o que dificilmente será conseguido se o desenvolvimento do bananal for apenas às custas das condições naturais do solo.
Com relação ao controle das ervas daninhas, há necessidade de estudos sobre o assunto, pois as capinas e roçagens constantes oneram o investimento, limitando, às vezes, a implantação da cultura. Os herbicidas e a roçagem mecânica são vistos como soluções para o problema.
O cacau deverá substituir a cana-de-açúcar no Recôncavo Baiano, pois oferece perspectivas promissoras, tendo em vista as condições ecológicas e outros requisitos básicos da cacauicultura e, para isto, o Ceplac oferece ao produtor desde a semente selecionada, até orientação em todas as fases da cultura.
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