Revista Fatos e Fotos Gente
27 de julho de 1981
VINICIUS
UM ANO DEPOIS
Um ano sem Vinicius. O diplomata, o poeta, o compositor, mas, sobretudo, o homem que muito amou e mais ainda foi amado. Aliás, o Poetinha amava sempre que o seu coração pedia. A prova está, talvez, em seus oito casamentos, todos absolutamente eternos enquanto duraram. No depoimento de suas ex-mulheres, as razões de sua própria infinidade. Uma delas confessa ter a sensação de que Vinicius está viajando: “Daqui a pouco, quando chegar, ele vai telefonar.” Na foto o velho Vina com o inseparável copo de uisque.
Era 9 de julho de1980. Morria Vinicius de Moraes. Aquele que foi incomparável como poeta e compositor, e que ainda serviu de traço de união a várias gerações de brasileiros. É muito difícil acreditar que Vinicius morreu, pois ninguém mais do que ele amou e se entregou à vida, sabendo também cantá-la em prosa e verso. Resta o consolo de que durante todos os seus 66 anos de existência, esse Poetinha só fez o que quis.
Comia quando tinha fome, dormia quando sentia sono, bebia mesmo contra as ordens médicas e, principalmente, amava sempre que seu coração pedisse.
Vinicius passou a vida amando. A prova está nos seus oito casamentos, todos infinitos enquanto duraram e que ainda lhe deram cinco filhos. O Poetinha, que um dia definido como “especialista em grandes amores”, aos 24 anos casou-se pela primeira vez - por procuração, já que morava na Inglaterra - com Tati. Dessa união, nasceram Pedro e Suzana.
Atualmente em São Paulo, no apartamento de uma irmã, Tati de Moraes convalesce de uma cirurgia no coração, feita há um mês e meio. Ainda enfraquecida e relutando em falar muito do ex-marido, Tati confessa: “Sempre admirei Vinicius como poeta, compositor, músico e intelectual. Ele marcou muito a literatura brasileira. Durante todos os nossos 30 anos de separação, sempre fomos amigos cordiais.”
Muito bem - educado, calmo e por mais incrível que possa aparecer tímido, Vinicius dizia ter medo das palavras. Era um homem meigo, a quem nunca se ouviu falando mal de ninguém. Talvez por isso mesmo tenha deixado tantos amigos saudosos. E entre estes, muito são aqueles que confessam ter a sensação de que o poeta está viajando- “Daqui a pouco, quando chegar, ele vai telefonar.” Cristina Gurjão, uma das ex-mulheres de Vinicius, confessa ter esta sensação. Ela é a mãe de Maria, a filha caçula que Vininha tanto curtiu. “Fiquei dois anos casada com ele. Nós separamos quando eu estava grávida. Aliás, engravidei a pedido do próprio Vinicius, mas como ele sempre foi uma pessoa profundamente honesta consigo mesmo e com os outros, tão logo, apaixonou-se por outra, me contou e nós nos separamos.
“ELE FOI UMA PESSOA FANTÁSTICA”
Tudo aconteceu de forma muito civilizada afinal, sempre estive certa de que assim como aconteceu com ele, um novo amor poderia ter ocorrido para mim. Claro que uma separação é uma coisa muito difícil. E tanto para quem parte quando para quem fica. Quando Maria nasceu, as coisas não foram nada fáceis. No entanto, Vinicius sempre me deu todo apoio. Ele foi uma pessoa fantástica, apesar de ser um pai de certa forma distante, em função de sua profissão. Quando Vinicius morreu, Maria estava com 10 anos e os dois tinham, então, um relacionamento ótimo.(foto ao lado)
Foi ele mesmo quem a preparou para aceitar a sua morte. Vinicius amou Maria demais e, embora estivesse preparada, ela sofreu muito com a morte do pai. De meu lado, senti a morte de Vinicius como se tivesse perdido meu próprio pai.”
Hoje Maria está com 11 anos e, quando fala do pai, seus pequenos olhos brilham.Ela o chamava de pai Vinicius e, além das longas conversas pelo telefone, costumava visitá-lo diariamente. Dois dias antes de morrer, Vinicius chamou Maria para conversa sobre tudo que queria que ela fizesse “depois que ele fosse embora”. Um dos pedidos: que Maria fizesse a primeira comunhão. O outro: que não deixasse de estudar até se formar. Hoje, com sua (também) extrema sensibilidade, Maria o descreve: “Sei que ele era um artista, mas eu o preferia como pai. Comigo era muito meigo e carinhoso, por isso nós nos dávamos muito bem.” É Cristina Gurjão quem volta a falar: “Conheci Vinicius ainda garota e ele foi uma pessoa muito importante em minha formação.
Esse último ano passado desde a sua morte tem sido dificílimo para mim, principalmente por ter que criar uma filha sozinha.De qualquer forma, foi muito importante Vinicius ter-se preocupado em fazer a cabeça de Maria até porque isso também deu força para mim.”
“É MUITO DIFÍCIL A VIDA SEM VINICIUS”
Durante sete anos, o Poetinha viveu com a atriz Gesse Gessy. O amor era tão grande que eles casaram-se duas vezes: uma no Uruguai e outra em Salvador, no ritual do Canbomblé. Tão logo a conheceu, Vinicius arrumou as malas e foi morar no fim da linha de Itapoã, numa casa que construiu especialmente para abrigar mais aquela sua paixão.
Hoje, Gesse relembra que Vinicius era muito carinhoso, “apesar de ser muito mulherengo, quando estávamos juntos, ele apagava todas as possíveis mágoas com sua enorme meiguice. (foto ao lado)
Muitas vezes, quando eu lhe telefonava durante as suas tournées, era atendida por mulheres que se diziam camareiras ou produtoras de shows. Eu sabia que não era verdade, elas eram as suas companhias momentâneas.
Vinicius é inesquecível e um ano sem ele, pra mim, é uma eterna saudade”.
Vinicius também foi casado com Lila Bôscoli, com quem teve duas filhas Georgiana e Luciana, mas ela preferiu não falar sobre o ex-marido. O mesmo decidiu LúciaProença, outra mulher.Ainda dos grandes amores do Poetinha, dois estão fora do Brasil: Nelita que mora na França, e Marita que sempre viveu na Argentina. Quanto a Gilda Queiroz Matoso a última mulher de Vinicius, o poeta costumava dizer que a queria próxima até o momento de sua morte, já que a considerava uma síntese de todas as mulheres que amara.
Foi exatamente o que ocorreu: Vinicius morreu praticamente nos braços de Gilda. Ainda muito perturbada pela perda do homem de quem mais gostou, a última amada do poeta hoje só consegue dizer: “ É difícil, muito difícil mesmo, a vida sem Vinicius.”
Na foto à direita no alto com Gilda, seu último amor, abaixo Martita, a argentina.
Reportagem de Regina Valadares ( Rio) Rosana Grant ( Sp) e Reynivaldo Brito ( Bahia),
fotos de Paulo Scheuenstuhl e Gilda Estelita)
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