Texto de Reynivaldo Brito
No interior baiano, as forças eleitorais disputam o poder numa luta de vida e morte. Até agora, cinco líderes foram assassinados
A literatura do Nordeste é pródiga no relato de conflitos entre os grandes fazendeiros e políticos. Na Bahia, essa guerra ficou bem retratada nas obras de Jorge Amado. Nos últimos meses, uma escalada de violência aproxima a realidade da ficção: três políticos foram brutalmente assassinados. Quase sempre alheio às brigas dos chefões políticos, o povo acha que o problema se resolverá nas eleições. Eliseu Leal, ao lado, acreditava no seu prestígio para ganhar as próximas eleições.As acirradas disputas de terras e pelo poder político têm provocado, nos últimos meses, cenas de violência em vários municípios do interior baiano. Preocupadas, as autoridades estaduais estão tomando inúmeras providências na tentativa de conter a escalada da violência. Entretanto, até o momento, as medidas não surtiram os efeitos desejados e o número de mortes vem aumentando. A última vítima foi o ex-prefeito de Malhada, Inácio Sousa de Lima, conhecido por sua valentia e por ter matado alguns de seus inimigos políticos.
“ Ele viveu e morreu na violência”, desabafou o diretor do Departamento de Polícia do Interior- Depin- delegado João Barbosa Laranjeiras, tão logo recebeu a notícia do assassinato de Inácio de Souza Lima. Enquanto enviava para Malhada o seu colega, delegado Luís Fernando Seixas Torres, o titular do Depin encontrava-se às voltas com a tentativa de assassinato que sofrera o atual prefeito de Barreiras, Otacílio Franca, baleado pelo ex-prefeito Baltazarino Andrade durante a convenção do PDS. Otacílio encontra-se internado em Brasília, enquanto Baltazarino, que estava preso no 10º Batalhão da PolíciaMilitar, em Barreiras, já está solto por força de um habeas corpus impetrado por seus defensores e deferido favoravelmente pelo juiz daquela comarca. Eliseu foi morto numa das ruas movimentadas de Salvador, foto.
Recentemente, também foi assassinado numa avenida movimentada de Salvador o prefeito de Gandu, Eliseu Leal, conhecido como conquistador e arregimentador de um grande contingente de inimigos durante as disputas políticas. Até hoje, os assassinos de Eliseu não foram presos e a polícia concluiu apenas que “ várias pessoas participaram da trama, onde foram empregados mais de um milhão de cruzeiros” na empreitada para assassiná-lo. Quanto aos nomes dos mandantes e dos assassinos ninguém sabe, e a polícia baiana parece que colocou o crime no rol dos insolúveis, embora todos concordem que eles moram em Gandu, cidade natal da vítima.
O ex-prefeito Eliseu Leal participou, dois dias antes de ser assassinados, no último dia 1º de setembro, do II Encontro de Vereadores do Estado da Bahia, onde voltou a defender suas idéias municipalistas. Respondendo a um repórter que o entrevistara, disse : “Gandu vai bem. Passa por uma fase de desenvolvimento que marca,realmente,a sua presença no contexto da região cacaueira, com uma produção crescente a cada ano.” Ao terminar a entrevista depois de falar sobre suas realizações, disse que era “ um homem forte politicamente, que nunca perdi eleição e, confiando em Deus, enquanto estiver a representar o meu povo, assim será porque eu valorizo o legislador municipal”.
Foram suas últimas palavras em público. Ele começou sua vida política aos 18 anos, foi deputado e, no ano passado, esteve envolvido com a morte de sua amante. Eliege Santana Barbosa, de 21 anos, cujo cadáver foi encontrado num apartamento na orla marítima de Salvador. Homem de muitos amigos e de muitos inimigos. Eliseu Leal foi uma das principais vítimas da violência que extrapola as fronteiras geográficas do interior e às vezes tem seu desfecho na capital.
O prefeito de Barreiras, Otacílio Monteiro Franca, foi baleado no tórax durante um tiroteio ocorrido no Clube Associação Barreirense de Cultura e Desportos, local da convenção do partido do governo.
Nas fotos ao lado Otacilio França e Inácio Souza Lima, são duas vítimas das brigas envolvendo famílias adversárias e ideais opostos no interior baiano.
O clima de confusão foi percebido pelo delegado regional, Major Alcione Uzeda, que não pode manter os policiais no local devido à legislação eleitoral, que determina que o reforço policial fique a uma distância de 100 metros. Inconformado e preocupado o major procurou o juiz para que lhe concedesse autorização para evitar o conflito mas foi aconselhado a obedecer a legislação eleitoral. Afastados os policiais, os tiros envolveram mais de 15 pessoas e atingiram o prefeito.
O município de Malhada é conhecido por sua fragilidade, porque é sempre um dos primeiros a serem atingidos pelas águas do rio São Francisco, quando das enchentes. E, principalmente, pelo eterno clima de violência onde as mortes por mando são comuns.
O ex-prefeito Inácio Souza Lima, que foi assassinado na semana passada pelo jovem Heleno Pires Nogueira, de apenas 18 anos de idade, também já mandara assassinar outras pessoas. Aos 50 anos, chefe político dos mais temidos do interior baiano, ele era uma das figuras centrais do conflito que há cerca de cinco anos envolve as famílias Souza Lima e Pires Nogueira e que resultou, até agora , em cinco mortes.
Antonio Souza Lima ,foto à direita, foi baleado várias vezes mas conseguiu escapar da morte.
Malhada tem cerca de seis mil habitantes e fica a 900 quilômetros de Salvador. A luta pelo poder político vem se intensificando desde 1975,quando Pedro Pires Nogueira lanço como candidato à prefeitura, por uma ala da extinta Arena, o atual prefeito Vicente Cristo Lopes, que derrotou Inácio Souza Lima.
Em dezembro de 78, foi assassinado pelo pistoleiro Jaime Brito o político Pedro Pires Nogueira. Depois, Inácio resolveu matar o jovem Almáquio Pires, com a ajuda de seus familiares. Almáquio foi assassinado por gozar de prestígio e ser o substituto do velho Pedro, também assassinado. Daí vieram outros assassinatos e outros poderão ocorrer entre as duas famílias e seus correligionários.
No último dia 14, a 1ª Câmara Criminal concedeu habeas corpus a Waldeli Lima Rios – foragido e com prisão preventiva decretada – acusado de mandante do crime contra o advogado Eugênio Lyra assassinado em Santa Maria da Vitória. O advogado era defensor de inúmeros posseiros no interior da Bahia, em cujos municípios vem imperando a lei do gatilho. O próprio governador Antonio Carlos Magalhães está empenhado em acabar com os graves conflitos existentes e está dando todo o apoio ao Instituto de Terras da e ao Judiciário, com vistas a fornecer títulos aos verdadeiros donos das terras.
Enquanto continuarem os problemas de posse de terras, conflitos existirão e a Federação dos Trabalhadores da Agricultura está trazendo a Salvador contingentes de posseiros de vários municípios, que vêm à Secretenvolvidos em grilagem de terras.aria de Segurança Pública solicitar providências policiais e, muitas vezes, denunciar delegados e oficiais da PM
Malhada tem cerca de seis milhabitantes e é palco de muito violência por disputas políticas
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